terça-feira, 14 de novembro de 2017

OS LUSÍADAS COMENTADO POR FRANCISCO DE SALES LENCASTRE - CANTO I ESTROFES I E II


OS LUSÍADAS


CANTO I



1 As armas e os barões assinalados,
Que da Ocidental praia lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
E em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
Entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram;

2 E também as memórias gloriosas
D’aqueles reis que foram dilatando
A fé o império, t e as terras viciosas.
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Cantando, espalharei (1) [farei conhecidos] por toda a parte do mundo, se a tanto me ajudar o engenho e a arte (2): — as armas [os homens célebres pelos seus feitos de armas ] e os assinalados (3) varões (4), que, partindo da ocidental praia lusitana (5) por mares nunca antes (6) navegados , passaram ainda  além da Taprobana (7), e edificaram (8) entre remota (9) gente um novo reino (10), que tanto sublimaram (11), sendo esforçados, em perigos e guerras, mais do que a força humana prometia (12) ; e também farei conhecidas as gloriosas memórias (13) daqueles reis que foram, uns após outros, dilatando (14) a fé e dilatando o império (15), e andaram devastando (16) as viciosas terras (17) de Ásia e África; e farei conhecidos aqueles varões que, por terem praticado obras valorosas, se vão libertando da lei da morte (18).

(1) Versejando, escrevendo estes versos — hei-de celebrar.. ., hei-de tornar conhecidos; esta linguagem alegórica [o canto] baseia-se nos pontos do semelhança entre a poesia e a música — ritmo, medida, sonoridade, harmonia, melodia, etc. ; os sons da música, «espalhando-se» pelo espaço, são escutados por numerosos ouvintes ; os poemas notáveis, transmitidos pela tradição oral ou pela escrita, são ouvidos e lidos, em todos os tempos e todos os países ; o Poeta escreveu assim com intuição profética ; são decorridos mais de quatro séculos e a suã Epopeia é conhecida e lida em todo o mundo culto. (2) O talento e o saber. (3) Ilustres, egrégios. (4) «Barões» [arch.J eram os nobres que serviam na milícia ; neste sentido se diz hoje «varões». (5) Sinédoque: a parte pelo todo : — Portugal, cujo território está no Ocidente da Europa e corresponde em grande parte à antiga Lusitânia. (6) «De antes» diziam os clássicos; e hoje ainda é locução popular, para significar «em tempo passado»— mares aonde não tinham ido navios da Europa antes dos portugueses. (7) Nome antigo da ilha de Ceilão, no oceano Índico; cfr. Vasconcelos Abreu, Estudo Escoliasta da Epopeia portuguesa, pág. 39. (8) Criaram, fundaram. (9) Gente do longínquas regiões. (10) O empório da índia. (11) Engrandeceram. (12) «Prometer de alguém grandes cousas», diziam antigos; o que significa hoje : «esperar grandes cousas de alguém»; portanto : aqueles varões eram «esforçados» [intrépidos, valorosos] mais do que se podia «esperar» das forças humanas; com efeito, é natural a relação entre a «promessa» de quem oferece e a «esperança» de quem há-de receber. (13) Os atos gloriosos, que deixaram memória; sinédoque : o abstrato pelo concreto. (14) Propagando a fé; aumentando o número de crentes na religião católica. (15) Acrescentando o domínio [o império] dos portugueses. (16) Devastaram  [destruíram] continuada, constantemente (o verbo «andar» exprimindo a frequência). 17 Os costumes viciosos, os maus costumes dos povos gentílicos. ( 18 ) Homens célebres, desaparecidos do mundo, que vão revivendo na lembrança das gerações, ao contrário da regra geral, ao contrário da lei da morte, cuja natural consequência é o esquecimento; o Poeta alude a reis o varões de que fala extensamente nos cantos III, IV, VIII e X. 



Nota ao usuário: estes textos não foram digitados, na verdade foram extraído da imagem do livro original por meio de software apropriado, portanto, os erros de grafia é natural do citado processo. agradecemos a compreensão de todos!

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